Em audiência pública, na Assembleia Legislativa do estado Amazonas, representantes indígenas e produtores rurais do estado, se reuniram na manhã dessa segunda-feira (23), para discutir sobre a delimitação de terras indígenas - Sissaíma e Murutinga /Tracajás localizadas na região de Autazes e Carreiro da Várzea. A proposta da reunião foi encaminhada pelos deputados Dermilson Chagas e Alessandra Campelo.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas - FAEA, Muni Lourenço, há preocupação com o impacto social e econômico que isso pode gerar “Porque essa demarcação está no coração da maior bacia leiteira que nós temos, um pólo produtivo que já tem mais de 100 anos. Os produtores rurais não tem absolutamente nada contra os indígenas, ao contrário respeitam toda a sua causa, no entanto, esperam também que seja respeitado o direito de propriedade”.
O documento do Ministério da Justiça que declara a área de 13.286 hectares como posse permanente dos indígenas Mura, teve com base o relatório feito pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que destaca elementos de natureza etno-histórica, antropológica, ambiental, documental, cartográfica, e fundiária como sustentação para delimitar as terras e retirar os produtores rurais que, lá estão, há mais de um século. O deputado Dermilson Chagas, destacou a necessidade de manter o diálogo entre produtores e indígenas. “Ninguém quer tomar terras indígenas, nós estamos em busca de diálogo; nós sabemos dos investimentos que foram feitos pelos não índios lá na área de Autazes, sabemos de todo o tempo que eles já estão lá; sabemos de todo o trabalho que eles já fizeram, mas agora chegou o momento que a presidente assinou um decreto delimitando uma área indígena e essa área pegou varias propriedades, vários investimentos”, explicou.
Segundo o presidente da Fundação Estadual do Índio, Raimundo Nonato Ferreira Sobrinho, “Essa audiência vai nos dar a direção para que nós possamos fazer uma proposta que atenda tanto a proposta da oposição quanto a nossa, é o momento de alinhar isso. Nós também não temos interesse em entrar em conflito com eles, eu acredito que isso será visto na lei e que o direito deles em relação ao que foi construído lá, seja assistido”, concluiu. Cerca de 1.500 produtores, juntamente, com os indígenas produzem mais de 21 mil litros de leite por dia, além de produtos que abastecem o mercado local, de Manaus e outros municípios.
Atualmente as áreas atingidas pela delimitação são: Murutinga, Ponciano e Sissaína, Autazes e parte do Careiro da Várzea. Demarcadas, as reservas irão abranger também áreas do Autaz-Mirim, compreendendo o rio Mutuca, Sissaíma, Patauá, Vila do Novo Céu, lago de Murutinga, parte do lago do Mastro, lago do Iauaçu, Paraná do Cuia e ramal do Novo Céu. Entretanto, existe também a preocupação no sul do Amazonas, com a reserva biológica criada também por decreto presidencial assinado pela presidente afastada, onde ninguém pode entrar. A área abrange os municípios de Apuí, Manicore e Novo Aripuanã.
Autazes
É um município brasileiro do interior do estado do Amazonas, pertencente à Mesorregião do centro amazonense e microrregião de Manaus com distancia de 113 quilometros capital na região sudeste da cidade. De acordo com dados do IBGE, Autazes possui a maior produção de leite de búfala do Brasil, com 1,7 milhões de litros de leite produzidos. Entretanto, existe também a produção agropecuária com base na criação de gado leiteiro, o que valeu a Autazes o título de cidade do leite e do queijo. Também há uma grande produção de queijo coalho, queijo manteiga e leite, bem como o cultivo da mandioca (farinha), do cupuaçú, do guaraná, da laranja, do feijão e do milho.