Foi realizada na manhã dessa segunda-feira (11), no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (FAEA/AM), a terceira reunião da Subcâmara Setorial Estadual de Fibras Vegetais, que reuniu representantes do Sindicato das Indústrias Têxteis do Amazonas, IDAM, SUFRAMA, CONAB, IFIBRAM, UFAM, EMBRAPA entre outros, para alinhar medidas que possam contribuir para o agronegócio da Fibra no Amazonas.
Atualmente, segundo dados da Embrapa, a produção nacional alcança cerca de 30% da demanda para o pleno funcionamento das indústrias de fiação, mas o restante fica a cargo do sudeste asiático. Entretanto, desse percentual o Amazonas, responde pela quase totalidade da produção do país, com produção anual em torno de 3 mil toneladas de fibras; com cerca de 72% produzidos só pelo município de Manacapuru/AM.
Para o pesquisador da Embrapa, Dr. Edson Barcelos, não há necessidade de se ter muita semente, mas para a Embrapa, o processo de produção de semente é uma atividade que deve ser feita pelos produtores e essa rede de agricultores seriam os clientes em potencial. Em contrapartida, a Embrapa atuará até no máximo, ao plantio da semente pré-básica, que são atividades de pequena produção e baixa quantidade no nível de melhoramento genético, algo a ser feito em parceria com a UFAM. “A grande importância dessa etapa inicial, é criar uma base genética com material de boa procedência devidamente caracterizada para que nós possamos evoluir no melhoramento genético, para então criarmos variedades superiores; hoje, o produtor planta qualquer semente, planta não, joga qualquer semente que ele recebe; e nós sabemos que nenhuma atividade agrícola evolui sem melhoramento genético,” explicou.
Além da questão do desenvolvimento da cadeia produtiva no estado, foi discutida também, a proposta do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do estado de São Paulo (Sinditêxtil), para a redução de 2% da alíquota para importação no período de um ano, com base numa média de 15 mil toneladas de fibras.
Segundo a Suframa, essa redução pode prejudicar substancialmente o produtor de fibras vegetais do Amazonas, pois a produção nacional não chega a 15 mil, portanto, a proposta apresenta várias incongruências de ordem técnica. Ainda segundo dados divulgados pela Suframa durante a reunião, entre 2013 (7 toneladas) a 2015 (3 toneladas), a produção nacional só caiu e a tendência para esse ano é cair ainda mais. “O nosso objetivo é colher informações junto aos produtores para apoiar a proteção da indústria nacional. Nós temos receio de haver problemas com o abastecimento. Nós já nos posicionamos contra essa proposta e viemos ouvir o setor para apoia-los no que for decidido”, salientou Alex Frederico da Suframa.
De acordo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas – FAEA e presidente da Sub-Câmara Estadual de Fibras, Muni Lourenço, “essa reunião da Sub-Câmara foi importante para o debate acerca das políticas públicas estaduais voltadas para a atividade, bem como, encaminhar situações para entraves da atividade, como a renegociação das dívidas rurais”.
Cultura de Várzea
A juta e a malva também são cultivadas em outros municípios do estado do Amazonas, como Anamã, Anor, Beruri, Codajás, Coari, Careiro daVárzea, Iranduba, Manaquiri, Itacoatiara, Caapiranga e Manacapuru. Entre 2010 e 2011, essa produção chegou a14.700 toneladas de malva e juta aproximadamente, hoje, a produção teve uma redução de quase 70%.
Atualmente essa produção ainda é feita de forma manual, para manter viva essa cultura, os malvicultores e juticultores trabalham durante uma jornada de 10h por dia, em ambiente inóspito e dentro d´água. O processo existe há séculos e não há no momento, uma infraestrutura capaz de melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores.
Cadeia Produtiva
Existe um projeto elaborado pela Embrapa já tecnicamente aprovado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do estado do Amaozas (FAPEAM/AM), que tem o objetivo de desenvolver pesquisas para possibilitar a geração, adaptação, transferência e adoção de tecnologias para o cultivo e beneficiamento de malva, além da capacitação dos extensionistas e produtores, ou seja, desenvolver a cadeia produtiva no estado em parceria com o estado do Para, UFAM e demais instituições governamentais e não governamentais do setor.
Segundo a vice-coordenadora do Núcleo de Socioeconomia da Faculdade de Ciências Agrárias (NUSEC/UFAM), Albejamere Castro, o desenvolvimento da cadeia produtiva para a produção de malva e juta no estado, depende do diagnóstico feito a partir das pesquisas, mas também da necessidade que o setor tem no que tange ao apoio das esferas federal estadual e municipal, porque viabilidade econômica o produto tem. “ Os alunos a partir das pesquisas de mestrado, têm constatado que há necesidade de se ter uma semente de qualidade, mas tendo, é possível plantar e garantir o lucro por meio da produção”, ressaltou.
Agricultura Familiar
Outro aspecto importante do projeto da Embrapa é o desenvolvimento da agricultura familiar no estado na produção de juta e malva, como estratégia de interiorização da economia para o interior do estado. A produção de fibras naturais é uma das alternativas para a área econômica e social dos municípios que têm essa potencialidade natural, dado a crescente demanda mundial e pelo apelo ecológico e, consequentemente, peloarraigado vínculo cultural com a população amazonense.