Artigo do Comandante Militar da Amazônia, General de Exército Guilherme Teophilo
O avanço do agronegócio no Sul do Estado do Amazonas tem sido uma realidade repleta de possibilidades e percalços. A expansão da fronteira Agrícola brasileira passou pelos Estados de Mato Grosso e Rondônia e já chegou com grande impulsão no Sul do Amazonas.
As vastas extensões de campos naturais, as rodovias BR-230 e 319, e a hidrovia do Rio Madeira, que tanto favorecem ao agronegócio, se deparam com uma série de obstáculos que podem ser sintetizados na expressão “custo Brasil”, tais como: legislação ambiental e sanitária dissonante entre os Estados, falta de incentivos fiscais, má conservação das estradas, reduzido investimento em portos fluviais e hidrovias, conflitos agrários que passam por grilagem de terras, invasão de terras indígenas e reservas ambientais, dentre outros.
A tradicional extração vegetal, que se dava em forma predatória e descontrolada, tem cedido lugar a um maior controle dos órgãos competentes e ao reflorestamento de áreas devastadas. Também tem se tornado comum a compra de terras com floresta nativa por empresários do Mato Grosso e Rondônia, a fim de permitir uma expansão da área cultivável para grãos em seus Estados mantendo, no Estado do Amazonas, a reserva legalmente obrigatória de preservação da fauna e da flora.
A década de 90 do século passado foi emblemática na caracterização das possibilidades e percalços do agronegócio no Sul do Amazonas por ter ocorrido um rápido avanço da produção de grãos, principalmente soja, no município de Humaitá, que conta com vastas áreas de campos naturais. Safras recordes e grandes promessas de negócio foram prejudicadas por legislações que impediram o escoamento da produção e a entrada de insumos.
O município de Humaitá,a despeito do revés sofrido pela cultura de grãos, tem investido intensamente na produção de alevinos e ainda conta com uma estratégica localização geográfica, que liga o Estado do Amazonas ao de Rondônia por um trecho bem pavimentado da BR-319 e por uma ponte sobre o rio Madeira. Além disso, engloba o cruzamento das BR-319 e 230 e a hidrovia do Madeira, facilitando o acesso e o escoamento da produção para o Norte, Sul e Nordeste do País.
A pecuária também tem tido um avanço significativo, particularmente nos municípios de Lábrea, Canutama, Manicoré, Tapauá, Novo Aripuanã e Apuí. No entanto, exigências legais impedem o escoamento da produção para o Sul, passando por Rondônia, que possui exigências sanitárias dissonantes com o Estado do Amazonas. A produção pecuária acaba sendo forçada a seguir para o Norte, pela hidrovia do Madeira, pela BR-319, ou para o Nordeste, por intermédio da BR-320 – Transamazônica.
A exploração de ouro, cassiterita e brita é intensa na região do Sul do Amazonas, porém, grande parte é ilegal e foco de conflito, causando danos ambientais e entrando em terras indígenas e reservas ambientais nacionais localizadas na região.
O avanço do agronegócio no Sul do Amazonas também fica evidenciado pelo surgimento de diversos assentamentos agrícolas que rapidamente expandem-se desordenadamente, tornando-se foco de conflitos com o poder legal e indígenas.
A exploração da castanha, do açaí, do sisal e outros produtos regionais ainda esbarra na falta de investimentos adequados para otimizar a cadeia produtiva e a lucratividade. No entanto, cada vez mais ganham espaço no mercado nacional e internacional de gastronomia fármaco e de cosméticos.
As políticas nacionais indigenista, ambiental, agrária, energética, hídrica e de transportes têm influenciado diretamente a capacidade produtiva e de comercialização do Sul do Amazonas, tanto favoravelmente quanto com desafios e obstáculos.
Em suma, o avanço do agronegócio no Sul do Amazonas tem sido uma realidade repleta de possibilidades e com um potencial cada vez mais evidente. Mas, para a perfeita sintonia com o desenvolvimento sustentável, é mister que as regras ditadas na legislação ambiental sejam amplamente executadas em toda a cadeia de produção, e mais importante ainda, que sejam fiscalizadas nas várias esferas do poder público e pela sociedade em geral.
A existência de um sistema multimodal de transportes, de vastas áreas de campos naturais, que facilitam a cultura de grãos e a pecuária,a riquíssima biodiversidade e de minerais, além da extraordinária quantidade de água são fatores que tornam esta região uma das mais promissoras fronteiras da expansão agrícola brasileira. No entanto, é fundamental que governos municipais, estaduais e federal consigam sedimentar políticas e ações que garantam os incentivos necessários para que a classe produtiva tenha cada vez mais confiança na crença de que o futuro do agronegócio brasileiro está no Sul do Amazonas.